sábado, 27 de janeiro de 2024

Querido diário,

Eu era uma flor e ele era uma abelha. Ele se rebelou contra mim e me feriu. Deixou seu ferrão em mim, pois também sou carne, e depois morreu.

Me doeu demais na hora e depois. A dor era latejante. Eu queria chorar, pois estava sozinha, eu estava tão sozinha, mas não me sentia só, porque eu ainda me tinha. Então me contradigo, como sempre faço, mas me repreendo, quebrando crenças enraizadas. Estou enraizada em mim, em terras plantadas por outrem, não sei quem. Sinto que não posso parar de crescer, então me cavo mais fundo e mais fundo, me tornando infinita, mas não sei se sou mesmo. Ainda sou uma flor? Me questiono. Quero ser mais.

Quero ser o sol, a lua, as estrelas. Quero ser o céu de alguém, de algo ou de mim, mas se choro não paro, então choveria demais e alagaria tudo.

Não sei se ainda sei nadar, tenho medo de morrer afogada, medo de gritar debaixo d’água e ninguém ouvir, e assim afundar cada vez mais até chegar no profundo fundo do mais fundo.

Chorei ontem à noite, disse a mim mesma que estava tudo bem, e estava tudo bem! Chorei porque também sou humana e preciso me desfazer da tristeza. Ela ainda me visita às vezes, somos amigas, rimos, bebemos e fumamos juntas. Quando ela me abraça, sinto uma saudade imensa, quando ela se despede é aí que eu choro. 

E se um dia eu for a abelha? Me parece distante, não sei se conseguiria, acho que no fundo não quero, quero ser eu. E quem sou? Ainda estou me descobrindo.

Sou meu grito debaixo d’água, sou a chuva no mar, se misturando e se tornando uma só. 

Saudades da praia, da mamãe e da vovó.

São horas iguais, faz um pedido, peço amor.

🌹 🐝

Ele curou todas as minhas feridas, me encheu de lavanda, seu toque era suave, a dor cessou.

Ele se foi.

Estou só.

E está tudo bem.


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