quarta-feira, 27 de abril de 2022

Querido diário,

Um rato roeu todos os meus sonhos, eu tentei pará-lo, mas ele fugiu.

Me abaixei no ralo por onde ele entrou, na tentativa desesperada de alcançá-lo, e gritei tão alto que todos em um raio de 5km puderam ouvir, mas ele não ouviu e eu precisei me encolher. Me permiti ser que nem ele, para poder persegui-lo por entre as valas e vielas na qual ele se escondia, para resgatar todos os pedaços que ele roeu. Eu o persegui sem cansar, pois se eu cansasse ele ficaria cada vez mais distante. 

E demorou muito tempo, demorou dias, semanas e meses, mas eu não desisti e, por fim, quando ele cansou de fugir de mim e se pôs a descansar, eu o encontrei, não o confrontei, porque ele já estava acabado, apenas agradeci por finalmente poder resgatar cada pedacinho roubado dos meus sonhos, cada caco partido e enfiado entre seus dentes. 

No caminho de volta eu chorei, não de tristeza, chorei de gratidão, então eu descansei, pois enquanto corria ao encontro dele, também coletava os pedaços que ele descartava, e eu tive certeza que ele jamais iria me roubar novamente: eu estava livre!