quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Querido diário,

Olhares que não dizem nada vagam entre bebidas em uma mesa de bar com luzes coloridas e falas aleatórias.
E eu viro mais um copo de cerveja imaginando que no próximo gole você me chame para dançar e me beije a boca enquanto eu fecho os olhos e vejo estrelas e a tua barba me coce e me cace como uma leoa faminta que precisa alimentar seu interior e seus filhos os quais ela enche de amor e eu só encho mais um copo.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Querido diário,

Rastejo pelo chão como uma cobra procurando minha antiga pele porque sinto saudades, mas ela não irá voltar ao meu corpo, ela virou pó.
Eu também,
Eles dizem do pó ao pó, mas esquecem das etapas que devemos percorrer até a decomposição.
E dói.
Rastejo pelo chão como um verme procurando alimento em outro corpo podre, porque sinto fome, mas o outro corpo não me alimenta, ele virou as costas.
Eu não.
Eles dizem coisas que eu não entendo porque vivo bêbado, e as palavras se perdem no ar.
Só dói depois.
E eu volto rastejando para minha oca.
Cobra rasteira, vida e morte, amor.

sábado, 22 de abril de 2017

Querido diário,

Hoje ela está agressiva. Ela grita comigo de todas as maneiras possíveis. E dói ouvir o que ela diz.
Eu tento silenciar, mas ela é mais alta.
Não adianta cobrir as orelhas pois ela entra pelos meus poros e ri na minha cara.
Eu tento esvaziar as lágrimas, mas elas se recusam a partir.
No âmago eu sei que ela as contem: aprisionadas em um calabouço onde nem eu posso entrar, pois ela me prende em um poço muito mais fundo.
Espero poder livrar-me desta dor, destes insultos.
Feia: maldita: ninguém nunca te amará: eu repito para ela que repete para mim ad infinitum.
Despeço-me ambiguamente neste texto e aguardo por dias melhores.
Por favor, me deixe.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Querido diário,

Se algum dia eu tivesse a oportunidade de me desprender do meu próprio corpo e me observar, sem que eu saiba, eu acho que gostaria do que vejo.
Em uma mesa de bar eu veria alguém mexer a perna impacientemente e tentaria imaginar o que ele estaria pensando, no caso ele pensava em ir embora.
Em um dia com o céu bonito visualizando a janela do ônibus eu veria alguém sorrir e tentaria imaginar o que seria, no caso seria algo bobo.
Eu seria meu amigo se eu não fosse eu, acho que isso se deve ao fato de que eu aceito o que sou e gosto do resultado da bagunça que me compõe.
Se algum dia eu tivesse a oportunidade de não ser eu, eu nem sei o que seria de mim.
Aceito a mim e continuo em uma busca sem fim de amor próprio, porque se aceitar às vezes é difícil, mas é de batalhas que se vence a vida, e eu seguirei assim até os meus últimos suspiros.
Espero que ao morrer eu consiga dar aquele sorriso besta que faz um chiadozinho e entenda o que eu fui.