terça-feira, 21 de abril de 2020

Querido diário,

Encontrei uma barata na minha cama. Me senti traído.
Estava na sala, assistindo televisão e resolvi dormir. E então, como em um filme, quando liguei a luz a vi. Se fosse mesmo um filme na cena haveria um plano e um contra plano, eu ligando a luz e ela lá na minha cama.
Ela poderia estar em vários locais, no ventilador, na cadeira, atrás da porta, no guarda-roupa, no chão, mas não, ela estava na minha cama e vagava de um lado para o outro como se procurando meu cheiro. Fiquei paralisado, levando em consideração o meu enorme nojo por estes insetos, foi uma atitude inesperada. Lembrei do baygon que uns dias antes estava na minha estante, perto da cama, mas não estava mais lá. Pensei em várias possíveis armas para acabar com ela, mas se fosse atrás de qualquer coisa que não estivesse no quarto ela iria embora. Me armei com meu sapato favorito, o sapato que eu mais amo e que nunca mais usei, para matá-la, e a bati de lado com tanta força para que fosse arremessada contra a parede e morresse de imediato.
E morreu.
Porém, fiquei triste, não por ela, que se foda a barata, odeio baratas. Fiquei triste de pensar que, todas as noites, enquanto durmo, baratas podem dançar na minha cama, logo eu que evito ao máximo, por tudo que é mais sagrado, comer no quarto para evitar que elas surjam, eu que varro a casa todos os dias em busca de manter um local limpo para evitar que elas venham, eu que troco os lençóis da cama todos os domingos, que lavo os pés antes de deitar, que durmo de boca aberta, logo eu que odeio tanto baratas, encontrei uma barata na minha cama.