quarta-feira, 30 de março de 2016

Querido diário,

Quando eu encontro formigas na lata de açúcar eu as deixo em paz, elas lá e eu aqui: olhando a xícara com ratinhos, eu aqui e elas lá: nadando no doce do sonho. Algumas ainda sonham com o branco do leite que eu não botei no café, deixando o fim amargo e escuro.
Eu só queria que você viesse agora.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Querido diário,

Eu sou um talvez entre um sim e um não, eu sou um pouco entre o tudo e o nada, eu sou uma lágrima num show de rock, eu sou um flerte na missa das nove. Algumas memórias me abraçam tão forte que eu não consigo soltar, eu disse que ia guardar aquela lembrança para sempre: você deitado em cima de mim, eu rindo, a música no fundo que lembrava teu ex, não, não era assim, era assim: eu na sua cama, você com raiva, eu não sabia se te amava, você no sofá eu na cozinha, "deita aqui comigo". Susana Vieira na televisão te fazia rir, meu deus eu amava tanto você, poderia casar com teus olhos. Você no banheiro, porta aberta, a água te lavava o corpo, "você é o amor da minha vida", eu disse, e era? Era, naquele momento era: você era tudo o que eu queria. A escada rangia num degrau, se eu pulasse em você tua costa iria doer, como no dia em que me carregastes nela, obrigado, muito obrigado por tudo, obrigado por todo amor que eu senti, obrigado por me fazer chorar e rir, obrigado por me trair, obrigado por partir, obrigador por me partir, obrigado por partir e me partir, poderia te dizer "je t'aime" em outra vida se você reencarnar, mas acho melhor não.
Era sim assim: você deitado em cima de mim, eu rindo.
Koishteru.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Querido diário,

O reflexo no espelho me assombra mais que o normal.
Um grito ecoa quando enxergo o que sou, e o que eu sou? Desconheço-me.
O que eu conheço agora é somente a loucura que invade minhas veias como heroína opiácea que não salva ninguém no final.
Prendo-me no guarda-roupa para não enxergar a luz e excluir-me do mundo, aumentando a afirmação de que o meu mundo é mudo e triste. Quando a aranha que não era aranha pulou no meu ombro eu gritei tão alto internamente que abalei meu onirismo, e agora não sei o que é real, como se alguma vez eu tivesse conhecimento sobre tal assunto...
Eu juro que ouvi o som da câmera fotográfica ficar mais alto, a Mariana congelar no tempo, a janela do ônibus turvar ainda mais.
Eu juro que vi a mulher do banner mexer a boca.
I am so scared.