terça-feira, 13 de outubro de 2020

Querido diário,

Duas árvores caíram em uma rua perto de casa. 

Elas eram duas árvores enormes, cheias de galhos.

Voltando para casa avistei a primeira, haviam pessoas ao redor dela, pensei que talvez não pudesse passar, pois ela estava quase próximo da outra parte da rua. Ao passar do seu lado, imaginei que ela estava cansada, ela estava tão cansada de ficar em pé por anos sustentando, os diversos galhos que saíam de seu tronco. Não olhei para as raízes.

A outra árvore era bem maior e estava no fim, ou seria o começo? da rua. Essa segunda árvore era tão maior que a primeira que sua queda fez os moradores interditarem a passagem, mas eu passei e a observei de longe. Tão grande e tão morta. 

A chuva da tarde foi tão forte que as derrubou ou será que elas só aproveitaram a oportunidade para cair? 

Há várias outras árvores ao redor delas, acho que agora elas estão de luto pelas suas conterrâneas, talvez chorem caladas no núcleo e aos poucos enfraqueçam suas raízes para um dia cair também.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Querido diário,

As vezes queria morrer, mas morro de medo da morte.
Dizem que o seu maior medo nessa vida foi a sua morte na vida passada, então eu fui a minha morte ou a morte foi a minha morte?
Mudo de locais na hora de dormir, alterno entre o sofá, a cama e a rede, para que assim eu me sinta em outro local, tenho essa pequena vontade de dormir na casa dos outros, como uma forma de quebrar a rotina, mas ninguém me convida.
Nos meus sonhos eu vivencio coisas que as vezes me assustam, ontem por exemplo meu dente se partiu em três pedaços e doeu.
Dizem que quem sonha com dente é presságio de morte, será que é a minha?
Senti gosto de sangue e parecia real demais, não gostei.
Espero que fique tudo bem, às vezes tenho muito medo de pensar.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Querido diário,

Encontrei uma barata na minha cama. Me senti traído.
Estava na sala, assistindo televisão e resolvi dormir. E então, como em um filme, quando liguei a luz a vi. Se fosse mesmo um filme na cena haveria um plano e um contra plano, eu ligando a luz e ela lá na minha cama.
Ela poderia estar em vários locais, no ventilador, na cadeira, atrás da porta, no guarda-roupa, no chão, mas não, ela estava na minha cama e vagava de um lado para o outro como se procurando meu cheiro. Fiquei paralisado, levando em consideração o meu enorme nojo por estes insetos, foi uma atitude inesperada. Lembrei do baygon que uns dias antes estava na minha estante, perto da cama, mas não estava mais lá. Pensei em várias possíveis armas para acabar com ela, mas se fosse atrás de qualquer coisa que não estivesse no quarto ela iria embora. Me armei com meu sapato favorito, o sapato que eu mais amo e que nunca mais usei, para matá-la, e a bati de lado com tanta força para que fosse arremessada contra a parede e morresse de imediato.
E morreu.
Porém, fiquei triste, não por ela, que se foda a barata, odeio baratas. Fiquei triste de pensar que, todas as noites, enquanto durmo, baratas podem dançar na minha cama, logo eu que evito ao máximo, por tudo que é mais sagrado, comer no quarto para evitar que elas surjam, eu que varro a casa todos os dias em busca de manter um local limpo para evitar que elas venham, eu que troco os lençóis da cama todos os domingos, que lavo os pés antes de deitar, que durmo de boca aberta, logo eu que odeio tanto baratas, encontrei uma barata na minha cama.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Querido diário,

Um novo ciclo se iniciou em mim meses atrás.
Não consigo mais regressar.
Por mais que eu tente voltar ao que eu era, parece que sempre estou nadando contra a maré e me afogando no rio do tempo.
Paro.
Descanso.
Os pés balançam para me manter na superfície.
Olho ao redor os incontáveis litros de água (que aqui os defino como tempo) e mergulho.
Abro os olhos e vejo o futuro, arde um pouco, mas é tão bom, tão bonito, tão alcançável.
Já não penso em olhar para trás.
Subo.
O céu e o rio se tocam na margem.
Prosseguirei, mesmo que canse.
Nadarei até alcançar o que eu sempre quis.
E eu sempre quis.