segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Querido diário,

De noite, na praia, não se pode ver o outro lado. É uma infinidade de ondas cinzas que embalam os corpos seminus dos banhantes. "Eu sou uma sereia", eu disse. E eu era, uma sereia sem cauda, porque quando a lua bateu em minhas pernas nuas e quando o momento era propício à transformação, uma onda enorme afogou-me. "Eu ainda sou uma sereia", eu disse. E eu era? Talvez eu fosse, talvez eu queria tanto ser que achasse que era, talvez no momento em que eu fechei os olhos, antes de tirar a roupa e entrar no cinza, em um universo paralelo eu criei uma cauda dourada magnífica e nadei até o outro lado, lá onde as conchas só abrem para o amor, onde alguém algum dia dirá como eu digo em uma música "serei a tua flor, sereia, meu amor".

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Querido diário,

No sábado as conchas se abrem para um mar claro de desejos e pérolas.
Eu desejei vê-lo, enquanto caminhava até o ramo para entrar em crisálida e cobrir-me com minha própria tristeza, e o vi.
Depois de criar asas, pousei em um bar e o revi, acendendo um cigarro do lado errado, ri.
Eu queria que ele visse meu riso, minha metamorfose, meu casulo, minha trilha de larvas e ele não viu, ele nunca vê, ele nunca verá.
No domingo as conchas se fecham para um mar obscuro, sem desejos, sem pérolas.